09 janeiro 2015

Ecos da minha experiência

Fonte da Imagem: Pinterest

Li um artigo sobre Coaching onde o autor, em tom irónico, designava as pessoas que trabalham na área como “especialistas em ensinar a viver”; “pessoas que não têm problemas porque têm respostas e soluções para tudo”, “pessoas que são sempre felizes”, “pessoas que não gritam, não se aborrecem, não se passam, porque controlam totalmente a sua mente e as suas emoções”, “pessoas que conhecem o segredo do sentido mais profundo da vida”…
Não vou falar por ninguém, não vou falar de definições ou de certos e errados… mas isto faz-me lembrar aquelas pessoas que acham que a vida dos outros é sempre perfeita, que eles são os únicos com “problemas” e que reforçam tanto o seu papel de “vítima” que quase conseguem que as pessoas que lutam diariamente por serem mais felizes, por serem gratas e por melhorarem todos os dias, sintam dificuldade em assumir a sua paixão e felicidade pela Vida. Por isso sinto que devo partilhar convosco o que da minha experiência é “ser uma pessoa que trabalha em Coaching”.
Trabalho em Coaching há um ano e uns meses e não sou especialista em “saber viver”, sou aprendiz na arte da saber viver. Procuro viver todos os dias em consciência plena dos meus pensamentos, das minhas emoções das minhas palavras e das minhas ações. É fácil? Não. É difícil? Não. É trabalhoso. É um processo que não tem fim, que (como todos os processos) tem altos e baixos, que exige disciplina, que apela ao meu desenvolvimento como pessoa, que me coloca cara a cara com os meus receios, com as minhas crenças… Não sou especialista em “saber viver”, sou consciente de quem sou, de onde estou e para onde quero ir. Dedico-me a perceber o porquê de algo ter corrido de forma diferente do que eu desejava e mudar o meu comportamento para chegar onde quero chegar. Esforço-me por estar presente em tudo o que faço, mesmo que os meus pensamentos teimem (muitas vezes) em ser senhores de si. E tenho em mim a crença absoluta que há coisas que não tenho capacidade ou competência para mudar mas que tenho sempre o poder de escolher a forma como encaro e reajo à situação.
Por tudo isto (e muito, mesmo muito mais) não sou “especialista em ensinar a viver”. Facilito processos de mudança em quem deseja a mudança. Escuto sem julgamentos. Facilito processos de tomada de consciência sobre tudo o que for importante para quem fala comigo. Crio condições para que as pessoas possam descobrir a sua melhor versão e nesse estado autentico encontrar as suas próprias respostas. Não ensino. Sou reflexo.
Lamento desiludir quem acredite que “quem trabalha “na área” são pessoas que não têm problemas porque têm respostas e soluções para tudo”. Eu tenho desafios para ultrapassar. Porque desafios e não problemas?! Porque eu escolho assim. Porque a palavra “problema” está demasiado associada a dificuldades, a impossibilidades, a situações negativas. Por isso escolho ter desafios. O desafio é algo que estimula a procura de soluções. É uma palavra associada a estimulo, à conquista, à transcendência. O desafio é algo que me faz mexer, que me motiva na busca de soluções e de alternativas. Por isso, não tenho soluções nem respostas para tudo, mas tenho, isso sim, a crença de que quando estamos focados e num estado elevado de consciência sobre nós próprios, o que nos rodeia e a situação em si, é apenas uma questão de tempo até encontrarmos uma solução.
Quanto ao “estão sempre felizes” também não me revejo. Se sou mais feliz depois do Coaching do que antes do Coaching?! Sim. Sem margem para qualquer dúvida. Mas simplesmente porque aumentei os meus níveis de consciência sobretudo em relação a quem sou. Hoje há clareza entre quem sou, o que tenho e o que faço. Tenho consciência plena e presente de que Sou muito mais do que os meus papéis e as minhas posses e isso dá-me tranquilidade. Isso fez-me perceber que a minha felicidade depende apenas de “que sou”. O que associado à crença de que posso sempre escolher o modo como compreendo e reajo aos acontecimentos da vida sinto que resgatei o poder de ser feliz, ou como gosto de dizer, de ser ainda mais feliz. Por isso não estou sempre feliz mas procuro ser sempre ainda mais feliz!
E isto leva-nos ao encontro de “pessoas que controlam totalmente a sua mente e as suas emoções”. Se gostava?! Então não gostava! Mas, como já disse, é um processo e, como qualquer processo é longo, contínuo e sempre recheado de oportunidades de aprendizagem e melhoria. Sim. Passa tudo por aí, por estar presente em cada momento e, nesse estado, observar os pensamentos e as emoções, sem julgamentos, apenas tomando consciência deles. Depois, conscientes, decidir se quero manter esses registos ou alterá-los para outros que me tragam maior bem-estar e que me aproximem de quem sou e do que quero. Comparo este processo ao da meditação centrada na atenção plena à respiração. Fechamos os olhos, concentramo-nos na nossa respiração e, de repente, um pensamento domina-nos a atenção… o que fazer?! Desistir?! Não. Sem julgamentos, simplesmente voltar a focar a atenção na respiração, e repetir o processo tantas vezes quantas forem necessárias até atingirmos o ponto que desejamos. Não. Não controlo totalmente a minha mente e as minhas emoções. Foco-me todos os dias em melhorar a minha capacidade de observar a minha mente e as minhas emoções.

Por tudo o que aqui partilhei convosco (e muito mais que me vai na alma) não me vejo como “uma pessoa que conhece o sentido mais profundo da vida”, mas como uma pessoa que procuro na simplicidade do meu dia-a-dia, na autenticidade com que vivo, no amor que sinto e na crença de que todos (conscientes ou não) temos em nós um potencial ilimitado manter o sentido da minha vida e, se me for possibilitado, inspirar outros a procurar o seu.


O texto ficou longo… não era a intenção mas não quis calar a voz do coração (rimou e tudo!)

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