Procuramos grandes acontecimentos, vibramos
com o seu planeamento e vivemos intensamente cada preparativo… e está bem. Está
muito bem que assim seja, porque os grandes momentos, as grandes celebrações
são para ser festejadas, vividas, respiradas até à essência. Temos tantos e
bons momentos nas nossas vidas, daqueles que nos marcam e que a memória insiste
em manter presentes, alimentando os nossos dias de uma saudade que nos faz
balançar entre a alegria e a nostalgia dos encontros e desencontros da memória
e do tempo. Mas isso não chega. Não pode, não deve, não é justo que chegue. É
preciso mais que simples momentos marcados no tempo. É preciso mais do que
datas certas para celebrar a Vida. É preciso que a vida seja mais e mais o
presente que se abre todos os dias, que se celebra todos os dias, que se vive
dia sim, dia sim. É preciso trazer VIDA à Vida. Está tudo certo com os grandes
momentos… mas e o dia-a-dia?! Também tens grandes momentos no dia-a-dia?! Ah e
tal, a rotina… Não há nada de errado na rotina, ela facilita-nos a vida, ela
permite-nos executar tarefas de forma excecional sem termos de estar a “pensar”,
ela ajuda-nos a organizar o tempo, ela pode (e deve) funcionar em nosso
benefício… desde que sejamos nós a controlá-la e não o inverso, porque a rotina
“autónoma” é egocêntrica. Absorve as horas e dos dias… destrói a essência da
vida porque a torna automática, desligada da emoção, do sentimento, do
presente. A rotina “autónoma” camufla as coisas boas do dia-a-dia, porque nos
foca apenas na execução e concentrados no “do it” não nos permitimos a estar
presentes, a observar e a sentir cada coisa que fazemos, dizemos ou sentimos. O
desafio é sermos capazes de “planear” a rotina, gerindo-a em nosso benefício,
encaixando nela o que nos faz feliz e compreendendo o que resulta e o que tem
de ser alterado. Depois é seguir o plano, consciente da flexibilidade que é
necessária para mantermos a liberdade de escolha. É estar verdadeiramente
presente em cada tarefa, sendo e fazendo o melhor que somos e sabemos em cada
uma delas. É observar o corpo, os pensamentos e as emoções e, sem julgamentos,
compreender o que nos dizem, ganhando, aos poucos, o controlo da nossa própria
vida. Quando sou capaz de observar algo, adquiro poder sobre “esse algo”. Sou
capaz de agir sobre ele, escolhendo a minha emoção, o meu pensamento, a minha
reação… e nesse instante “o comando é meu”… eu posso escolher! E celebrar os
grandes momentos do dia-a-dia é isso. É observar, compreender, aceitar e
escolher. É assumir a responsabilidade da vida que é minha e de mais ninguém. É
escolher ver em cada coisa, em cada gesto, em cada pessoa ou em cada situação
algo para celebrar e fazer sorrir.
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